50 anos da independência: Antigo dirigente diz que OPAD-CV contribuiu para a educação e formação cívica de crianças

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50 anos da independência: Antigo dirigente diz que OPAD-CV contribuiu para a educação e formação cívica de crianças
06/06/25 - 02:03 pm

*** Por Luís Carvalho, da Inforpress ***

Cidade da Praia, 06 Jun (Inforpress) – O antigo chefe da OPAD-CV, Antero Veiga, defendeu hoje que essa instituição deve ser vista como uma organização “dinâmica” que muito contribuiu para a educação e formação cívica de crianças, adolescentes e jovens.

“A Organização dos Pioneiros Abel Djassi de Cabo Verde (OPAD-CV) deve ser vista não apenas como uma referência do passado, mas como uma organização dinâmica que muito contribuiu para a educação e formação cívica de crianças, adolescentes e jovens e sua orientação pedagógica em termos de patriotismo e amor a Cabo Verde”, disse Antero Veiga.

Nos dias de hoje, acrescentou, esta instituição faz muita falta ao País, em que jovens enfrentam desafios diferentes daqueles vividos na fase inicial pós-independência.

“São problemas como o desemprego, a delinquência, a emigração e a globalização, para citar alguns, que exigem novas estratégias e abordagens de organização a nível da sociedade civil, fora da esfera do Estado”, afirmou Antero Veiga.

O antigo “pioneiro-chefe” da OPAD-CV fez estas considerações em entrevista à Inforpress, a partir de Timor-Leste, onde vive e trabalha actualmente.

“Há ex-pioneiros que são membros de praticamente todos os partidos políticos em Cabo Verde, o que contraria uma visão extremamente míope e prejudicial de uma certa liderança partidária numa determinada altura”, assegurou Antero Veiga.

Os ex-pioneiros, frisou, têm orgulho da sua experiência nessa organização, encontram-se espalhados pelos quatro cantos do mundo e são considerados “bons profissionais e até cientistas”.

Considerou que a essência da organização deverá permanecer centrada na educação e ocupação dos tempos livres dos jovens, engajando-lhes em actividades úteis de promoção da cultura cabo-verdiana e de educação cívica e patriótica.

Para Antero Veiga, a OPAD-CV emergiu como uma “força vital” na construção da harmonia, tranquilidade e coesão social no período pós-independência de Cabo Verde, acrescentando que se trata de uma “estrutura de complementaridade educativa e de empoderamento de novas gerações”.

Na sua perspectiva, com uma “rica história e um legado de contribuição para a educação, cultura e cidadania”, o percurso da OPAD-CV precisa ser investigado e registado em livro, tendo em conta o seu “impacto relevante na sociedade cabo-verdiana”.

Lembrou que no ano lectivo de 1975/1976, a então professora de Educação Física, Adélcia Pires, teve a iniciativa de desencadear um processo de organização de actividades de ocupação dos tempos livres dos alunos, que culminou com a criação da OPAD em Cabo Verde, inspirada na experiência das zonas libertadas durante a luta armada.

A organização passou a chamar-se “Abel Djassi”, pseudónimo de Amílcar Cabral, em homenagem ao líder revolucionário, um dos principais heróis da luta pela independência da Guiné e Cabo Verde.

A OPAD-CV foi criada em assembleia-geral electiva, realizada no dia 12 de Junho de 1976.

“Nesse dia, tive a minha primeira experiência de democracia efectiva, pois houve uma campanha interna e o meu nome constava como candidato a pioneiro-chefe, juntamente com a colega Teresa Paula Miranda Alfama”, apontou Antero Veiga, acrescentando que a lista que liderou saiu vencedora.

Tinha 14 anos de idade e este acto eleitoral interno, segundo ele, é uma das gratas recordações dessa organização que o acompanha até hoje.

Antero Veiga defende que a organização dos pioneiros era uma estrutura voltada para complementar esforços de educação, através da ocupação de tempos livres, promovendo valores de patriotismo, educação cívica, de promoção cultural e desportiva, princípios éticos, de tolerância e de sã convivência.

“Isso não era, nem de longe e nem de perto, uma espécie de “lavagem cerebral”, como infelizmente alguém chegou a considerar, mas sim, uma necessidade objectiva da práxis de libertação nacional que estava em curso”, indicou o entrevistado da Inforpress.

Advogou, por outro lado, que a OPAD-CV foi “muito útil na promoção da cultura cabo-verdiana”, nos anos pós-independência, altura em que constituía uma prioridade a valorização da identidade cultural.

“Contribuímos para a preservação e promoção das tradições, músicas e danças do nosso país”, sublinhou, adiantando que isto aconteceu através da promoção de festivais culturais e concursos artísticos, envolvendo crianças, adolescentes e jovens de várias ilhas.

Na sua perspectiva, os acampamentos nacionais permitiram a congregação de crianças oriundas de todas as ilhas, em jornadas de camaradagem, confraternização, conhecimento mútuo e promoção da unidade e coesão nacional.

“Os participantes nesses acampamentos forjaram amizades que perduram até hoje”, pontuou Antero Veiga, para quem as crianças de várias ilhas tiveram a oportunidade de participar em acampamentos semelhantes realizados em vários países amigos, o que contribuiu para o alargamento da sua visão do mundo e do desenvolvimento do sentimento de solidariedade internacional.

O conjunto musical “Abel Djassi”, aponta Veiga, foi um “autêntico viveiro de grandes referências da música cabo-verdiana”, tendo acolhido diversos artistas, de entre os quais Kim Alves, o saudoso saxofonista Totinho, o Adão Brito, Zé Léli, Carlos “Calú de arquitecto”, Victor Bettencourt, e tantos e tantos outros, que, posteriormente, acabaram por integrar e dinamizar grandes conjuntos musicais, tais como “Os Tubarões” e “Finaçon”.

“Também no seio da OPAD-CV nasceu o Conjunto “Djassi”, que lançou os principais timoneiros do Conjunto “Ferro Gaita”, assinalou, para depois realçar que o conjunto “Abel Djassi” foi o baluarte do Concurso Nacional “Todo o Mundo Canta”, que foi uma “rampa de lançamento de diversos artistas/vocalistas nacionais”.

Ainda na música, mencionou que o Concurso Nacional de Pequenos Cantores promovido pela OPAD-CV como evento que permitiu a revelação de “muitas estrelas que continuam a brilhar na constelação musical cabo-verdiana, tais como a Ritinha Lobo, Solange Cesarovna e Ceuzany Fortes”.

“A organização produziu pelo menos dois discos, com vencedores de edições deste certame musical (um com a Titita Soares de Carvalho e o LP Cabo Verde das Crianças, produzido por Ramiro Mendes)”, acentuou Antero Veiga, lembrando que vários vencedores deste evento chegaram a participar no Concurso de Vozes Infantis em Portugal.

LC/HF

Inforpress/Fim

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