Mindelo, 08 Jun (Inforpress) – O presidente da associação Biosfera 1 disse hoje que em Cabo Verde há discursos bonitos sobre a preservação dos oceanos, mas não se vêem políticas coerentes, que sigam a linha da retórica para uma preservação efectiva.
Tommy Melo falava à Inforpress a propósito do Dia Mundial dos Oceanos, cujo tema deste ano é “Planeta Oceano: A mudança das marés”.
Para o presidente da associação de protecção ambiental Biosfera 1, esta falta de coerência é vista em várias áreas ligadas ao oceano, como as pescas, a legislação, a fiscalização, a conservação, a construção na área costeira e nos transportes, entre outros.
“É uma retórica muito bonita que os nossos políticos estão a vender e sabem dizê-la de cor e salteado mas, ao mesmo tempo, não estamos a ver a implementação de medidas que sejam coerentes com estas retóricas que estão a utilizar”, considerou Tommy Melo, para quem, “isso é um pouco estranho porque políticos e os governantes já entenderam qual é o tamanho dos nossos mares e vivem dizendo que somos 99 por cento (%) mar”.
Para o presidente da Biosfera 1 é preciso os cabo-verdianos, e a nível mundial, entenderem que “os oceanos são a última barreira que impede o ser humano de avançar para a extinção”, porque “as florestas já estão a ser degradadas a um nível sem retorno”.
Isto porque, explicou, os oceanos “têm um grande papel no controlo climático, são uma das grandes fontes de alimento e uma pista de ligação mundial do comércio”.
A mesma fonte lembrou que, neste momento, existem no País “algumas políticas que estão a colocar os pescadores-mergulhadores em conflito com os pescadores artesanais” e há também “políticas de construção de empreendimentos na orla costeira que ultrapassam completamente regras, apesar dessas regras terem sido criadas para obrigar que o desenvolvimento seja sustentável a todos os níveis e para todos os cabo-verdianos”.
“Temos identificado zonas com grande potencial de ser áreas marítimas protegidas e até são decretadas na lei e, de repente, eles voltam atrás e permitem construções de infra-estruturas em zonas que, antigamente e por um motivo válido, tinham sido declaradas como zonas de protecção”, afirmou.
Segundo Tommy Melo não se pode impedir o progresso, mas é preciso que esse progresso seja feito seguindo as regras, mas em Cabo Verde não gostam de seguir as regras.
“Basta uma pessoa aparecer com um dinheirinho a mais já ultrapassou as regras, basta ser de um partido político também ultrapassou as regras”, criticou a mesma fonte, defendendo que se se “ficar a esconder atrás da ilusão de que há sempre tempo de arrepiar caminho os custos serão maiores”.
“Ainda não estamos no ponto sem retorno, mas estamos muito, muito próximos. Há tempo, mas o custo de arrepiar caminho, neste momento, é dez vezes maior do que há 20 anos e se deixarmos passar mais 20 anos o custo será 100 vezes mais e não estou a ver Cabo Verde a ficar rico, vejo o País a esgotar mais recursos”, sentenciou.
Por causa disso, o presidente da associação Biosfera 1 pediu às pessoas que deixem de discutir assuntos importantes no facebook e comecem realmente a usar a cidadania para algo que vale a pena e para tentar pressionar os políticos a fazerem aquilo que é melhor.
“Estão lá porque os colocamos lá para servirem Cabo Verde e os cabo-verdianos melhor, mas nós é que temos que os lembrar disso”, arrematou Tommy Melo.
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