REPORTAGEM/Santa Catarina: Jovens deixam Aldeia SOS para uma vida autónoma e independente (c/áudio)

*** Por Feliciano Monteiro, da Agência Inforpress ***

Assomada, 04 Out (Inforpress) – Katiana Lopes e Rafael Correia são dois dos três jovens da Aldeia SOS de Assomada, em Santa Catarina, que vão deixar a partir de hoje o lar juvenil da instituição para uma vida autónoma e independente.

Katiana Lopes, 19 anos, e Rafael Correia, 22 anos, são do bairro de Ponta d’Água, Cidade da Praia, vieram para a Aldeia SOS de Assomada, respectivamente, em 2012 e 2007, por causa das “condições difíceis” dos seus progenitores.

Os dois jovens, que saem do lar juvenil no âmbito do programa de reinserção daquela instituição, para o mundo do trabalho e de estudo, ou seja, para as suas famílias, decidiram pela vida académica.

Katiana, que vai fazer licenciatura em Direito, na Universidade de Santiago (US), decidiu continuar a residir em Assomada, e Rafael optou por regressar à sua terra natal e morar com a sua madrinha para poder fazer o curso de Estudos Franceses, na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

“Quando cheguei aqui pela primeira vez fiquei espantada e encantada ao mesmo tempo, porque não tinha a ideia da existência de um espaço como a Aldeia SOS de Assomada”, contou a jovem, que na altura, em 2012, foi levada pela mãe juntamente com mais dois irmãos.

“Nunca estive num lugar tão esplêndido como a Aldeia SOS de Assomada e gosto muito de estar aqui. Tive muitas oportunidades, diverti-me, conheci muitas crianças e fiz muitos amigos”, disse, apelidando os internos da Aldeia SOS de Assomada de “irmãos e família”.

Tendo em conta, que o bairro onde nasceu na altura era “assombrado” por violência e “más influências”, congratulou-se com a decisão da sua mãe de a ter entregado aos cuidados dessa instituição que, assegurou, “vai carregar para toda a vida”.

“Aqui tive muitas oportunidades e posso dizer que a minha vida está meio caminho andado”, disse, entregando esta nova etapa da sua vida e o seu sonho de ser advogada “nas mãos de Deus”.

Questionada se não guarda mágoas da sua mãe, respondeu nesses termos: “Não. Nunca vou ter. Só tenho que lhe agradecer, porque ela sabia que não tinha condições para dar um futuro a mim e aos meus irmãos e nos trouxe para um lugar onde ela sabia que teríamos futuro”.

Aliás, assegurou que mantém uma boa relação com a sua mãe, não obstante, ter optado por ficar em Assomada para realizar o seu sonho de ser advogada.

“A Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde é uma grande instituição e, às vezes, faltam-me palavras para defini-la, porque aqui encontra-se um pouco de tudo – amor, carinho, um lar e uma família bem construída”, exteriorizou, assegurando que durante a sua estada deu-se muito bem com todos e sentia-se muito bem ali.

Contrariamente à Katiana Lopes, Rafael Correia confessou que “não está bem preparado” para a nova vida fora da Aldeia SOS de Assomada, mas, disse acreditar que com a preparação que teve na Aldeia SOS de Assomada vai ultrapassar os obstáculos e realizar os seus sonhos, que é ser guia turístico ou professor da Língua Francesa.

O jovem que perdeu a mãe em 2018, disse que não tem “mágoas”, até porque, não obstante estar na Aldeia SOS de Assomada, a sua mãe demonstrou sempre muito amor quando ia de férias.

“Daqui [da Aldeia SOS de Assomada] levo os bons momentos que vivi e as oportunidades que tive. Aproveito para aconselhar os que ficam para agarrarem as oportunidades que a Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde nos dá”, declarou o jovem carinhosamente conhecido por Rafa.

Na ocasião, ambos se mostraram conhecedores dos “pontos fortes e fracos da vida”, que aprenderam na Aldeia SOS de Assomada, daí acreditarem que a preparação feita e as formações que tiveram lhes permitem alcançar, “com sucesso”, uma vida autónoma e independente fora da instituição.

Conscientes de que nunca vão conseguir pagar por tudo que a Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde fez pelos dois, comprometeram-se em retribuir mesmo que seja com pouco, no futuro e ainda em nunca envergonhar a instituição, mas sim, se orgulhem deles.

Por fim, os dois jovens que lembraram que a Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde vive de apoios, exortaram à sociedade, aos poderes públicos e aos padrinhos para continuarem a ajudar a instituição para que a mesma possa continuar a acolher, dar oportunidades e ajudar mais crianças, adolescentes e jovens a terem um futuro melhor.

A celebração dos 39 anos vai ser marcada pela cerimónia de reinserção de três jovens, sendo dois de sexo feminino e um de sexo masculino, que saem do lar juvenil para o mundo de trabalho e de estudo, ou seja, para as suas famílias.

Da agenda consta ainda uma homenagem às mães da Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde, que terá lugar hoje a partir das 11:00, na Aldeia SOS de Assomada que entrou em funcionamento a 04 de Outubro 1984 e, por isso, hoje completa 39 anos da sua criação.

FM/HF

Inforpress/Fim

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