Maio: Multi-instrumentalista e autodidacta quer transmitir o seu conhecimento aos mais novos

Porto Inglês, 10 Jun (Inforpress) – Rafael Silva Monteiro é um multi-instrumentalista e autodidacta, com a preferência para a harmónica soprano melódica, que já tocou e encantou os maienses de todos os povoados da ilha e quer transmitir o seu conhecimento aos mais novos.

Em conversa com a Inforpress, o pedreiro de profissão começou por explicar a sua incursão na música, na altura com 16 anos, e, segundo ele, foi graças a dois amigos que moravam em Cascabulho que o ensinaram a fazer os primeiros acordes no cavaquinho.

“Na altura, comecei a fazer alguns acordes no cavaquinho com Palmerino e João de Deus, mas como eu não tinha instrumento não avancei. Passado algum tempo tive uma nova oportunidade, desta vez com Paulo de Faustina, um amigo de infância, e juntos começamos a dar os primeiros passos, mas ele na altura já tocava nas salas de baile, acompanhando o Codé em vários povoados”, contou.

Rafael Monteiro começou a destacar-se no cavaquinho, o que lhe permitiu juntar-se aos colegas com quem aprendeu, tendo participado nos bailes de “rabecada”, que se realizavam na altura um pouco por todas as localidades da ilha do Maio em momentos de festas religiosas, casamento ou aos fins-de-semana.

Com o passar do tempo, o artista começou “acidentalmente” a gostar de instrumento de sopro, mais concretamente a harmónica soprano melódica.

“Um belo dia, passei frente da casa da minha namorada, na altura, e minha actual esposa, senti as crianças a tocarem naquele instrumento que fora trazido de Europa pelo pai, então gostei, e disse para mim mesmo se um dia eu o tiver na mão vou toca-lo”, relatou.

Algo que veio acontecer algum tempo depois, mas por alguns minutos, o suficiente para conseguir fazer algumas notas, salientou, ressalvando que isto foi graças ao conhecimento que já tinha adquirido no cavaquinho.

O instrumento de sopro veio-lhe calhar à mão quando já se encontrava casado, porque foi oferecido ao seu filho como presente e, por ser um autodidata, aprendeu sozinho a dar os primeiros passos.

“Quando voltei a pega-lo, de novo, comecei a experimentar fazer mais notas e passado uma semana fui ensaiar na capela de Morrinho e todos ficaram admirados como é que eu consegui aprender a tocar a melodia. A partir daí passei a tocar em todas as missas das festas grandes e cada vez mais as pessoas iam ficando encantadas comigo, por causa deste instrumento”, enfatizou.

Por ser um autodidata, Rafael Monteiro também aprendeu a tocar violão de dez cordas, instrumento que encontrou em casa. Além disso, começou também a enveredar pela guitarra, teclado, violino e, mas recentemente, o viola baixo, no grupo “os irmãos”, que ajudou a criar juntamente com os seus irmãos e um primo, mas frisou nunca ter deixado de lado o seu instrumento de eleição, o que lhe valeu muitos convites e palavras de enaltecimento.

Por ser um homem de sopro, instrumento muito pouco tocado no Maio, Rafael Monteiro disse que admirava o único tocador de clarinete na ilha, na altura residente na então vila da Calheta, e por gostar deste instrumento teve uma surpresa.

Contou aquele multi-instrumentalista, “um dia depois da missa, o senhor Torin, que era emigrante, veio até mim e me cumprimentou e voltou para mim e disse, porquê que você não toca clarinete e eu respondi, gostaria, mas não tenho como comprar e ele prometeu trazer-me um”.

Algo que veio a acontecer anos depois, mas, conforme explicou, o mais difícil foi tirar o primeiro “pito”, visto que não tinha ninguém para o ensinar. Mas, a partir do momento que conseguiu, já não quis parar e garantiu que toda as vezes que toca este instrumento quer em missa, baile ou espectáculo, é motivo de admiração.

Rafael Monteiro salientou ainda que hoje ele tem como seu “professor” o falecido Luís Morais, e que cada dia está a descobrir coisas novas, mas aproveitou a ocasião para revelar a sua mágoa com o facto de, segundo ele, os artistas maienses não serem valorizados na ilha.

O multi-instrumentalista conclui afirmando que está disposto a passar o seu conhecimento aos mais novos, dentro das suas capacidades técnicas, visto que nunca frequentou uma escola de música.

WN/CP

Inforpress/Fim

Facebook
Twitter
  • Galeria de Fotos