Porto Inglês, 03 Fev (Inforpress) – O Instituto de Património Cultural tem em curso um inventariado sobre a Tabanka na ilha, onde detetou a existência de mais dois grupos, sendo um na vila da Calheta e o outro nas localidades do Alcatraz e Pilão Cão.
Em declarações à Inforpress, a técnica do IPC Sandra Mascarenhas assegurou que durante as visitas do terreno acabaram por descobrir que na ilha existem mais dois grupos de Tabanka que até agora eram desconhecidos por aquela instituição.
Sandra Mascarenhas, que não esconde a sua satisfação pela descoberta, sublinhou que a última Inventariação foi feita em 2020, daí a necessidade de se actualizar os dados com vista à sua classificação como património da humanidade, razão pela qual se uma encontra no Maio uma equipa do IPC para cumprir uma de trabalho de três dias.
“Nestes últimos dias, estivemos com trabalho intensivo nas localidades de Alcatraz e Pilão Cão, onde estão a celebrar a festa local e também estivemos na vila da Calheta, que sabíamos por alto que havia esta manifestação cultural e o que constatamos é que nestes povoados existem grupos de Tabanka activos, que embora não estando formalizados, conservam a essência desta manifestação cultural”, enfatizou.
Aquela técnica sublinhou que, embora não exista uma formalização, as pessoas ainda continuam a manter viva esta manifestação cultural, acrescentando que também durante os trabalhos de pesquisa acabaram por descobrir a existência de mais grupos de Batuko, que não têm tido visibilidade na comunicação social, mas mantém a tradição.
Sandra Mascarenhas defendeu que é preciso “resgatá-los”, de modo a puderem ter mais oportunidade e visibilidade no meio cultural local e nacional, para que possam ganhar alguma “sustentabilidade”.
A este propósito defendeu que cabe, tanto aos grupos de Tabanka como aos de Batuko manifestarem os seus interesses para o efeito, prometendo todo o engajamento do IPC nesse processo.
A técnica do IPC fez saber que o processo de Inventariação é algo contínuo, realçando que neste processo contam com o consentimento dos grupos e das pessoas que compõem os mesmos, para que possam acrescentar ao dossiê físico da candidatura, que vai ser acrescentado ao formulário, que deverá estar concluído e apresentado até Dezembro deste ano e ser analisado no início de 2024.
Sandra Mascarenhas disse que a candidatura da morna já serviu como experiência, pelo que estão convictos e “tranquilos”, quanto a este quesito, não obstante as políticas culturais que deverão ser feitas para se conseguir este objectivo que é “um desígnio nacional”.
“Podemos constatar que na ilha do Maio existe um engajamento e até uma liderança por parte das mulheres na organização desta manifestação cultural, o que acaba por demonstrar a equidade de género”, precisou, realçando que existem particularidades no ritual da Tabanka que se pratica no meio urbano em relação ao que se faz no meio rural, tanto na ilha de Santiago como na ilha do Maio.
Lembrou que no passado houve um estudo sobre a Tabanka, mas que não se debruçou sobre a essência desta manifestação cultural, que na sua opinião vai para além daquilo que é visto nas ruas, o que é permitido com a Inventariação de base feito junto das pessoas e durante o ritual com uma pesquisa no terreno.
Sandra Mascarenhas admitiu, por outro lado, que ainda existe um certo “preconceito” sobre a Tabanka, que na sua opinião é vista como “fanfarrada” feito por pessoas de forma desorganizada, e contra a religião, mas deve ser vista como um ritual e um prolongamento entre o religioso e o profano.
Aquela investigadora sublinhou que parte mais “enriquecida” com o estudo de terreno que está a ser realizado na ilha do Maio, tanto a nível da Tabanka como do Batuko que se praticam na ilha.
A tabanka, manifestação artística em Cabo Verde, foi perseguida pelo poder colonial e considerada pecado pela igreja, mas sobreviveu e está a ser alvo de um inventário com vista à sua classificação como património da humanidade.
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