Porto Inglês, 01 Nov (Inforpress) – A Fundação Maio Biodiversidade registou este ano, um total de sete mil ninhos de tartarugas marinhas, um número muito inferior ao registado no ano passado, que rondou os cerca de 50 mil.
Ao fazer o balanço da temporada, o coordenador da patrulha, Jairson da Veiga, destacou a diminuição do número de ninhos de tartaruga, fixando-se em números comparáveis aos do ano 2019 em que a cifra foi de 7.400 ninhos.
No entanto, frisou que na ilha do Maio os dados apontam que ainda “existe um número saudável de fêmeas reprodutoras” e sublinhou que a explosão do número de ninhos que ocorreu no ano passado tem a ver com a sincronia de muitas fêmeas de vários anos, talvez causadas por fenómenos de abundância de alimentos e com a temperatura da água que poderá estar relacionado com mudanças climáticas.
“Para proteger os ninhos construímos o viveiro de incubação na praia de Bixe Rotxa para minimizar o impacto da poluição luminosa da cidade de Porto Inglês e da obra de requalificação do porto da ilha”, enfatizou lembrando que a criação desse tipo viveiros tem vindo a permitir que a população do Maio e os visitantes tenham a possibilidade de conhecer melhor a espécie e os trabalhos de conservação que a FMB vem realizando ao longo dos anos.
Porém, ressalvou que este ano aconteceram aspectos que considerou ser negativos, destacando a mudança da estratégia de patrulha permanente em algumas das praias, o que justificou ter sido por dificuldades financeiras para o efeito, o que teve repercussão no aumento acima dos seis por cento (%) na captura, em comparação com ano anterior que ficou abaixo de 2,0%.
Conforme afiançou aquele responsável, este ano, o numero de apanha registado rondou cerca de 150 tartarugas, o que na sua opinião é “preocupante” apesar de terem realizado várias actividades de sensibilização junto das comunidades.
Em contrapartida enalteceu alguns aspectos mais positivos, com reacção para o programa de conservação, em que conseguiram envolver e empregar 97 pessoas locais durante um período de quatro meses, que inclui guardas, jovens líderes, mulheres chefes de família, condutores, supervisores e técnicos de viveiro.
“A nível de parcerias tivemos a participação de 22 de voluntário internacionais e quatro estudantes da Universidade de Cabo Verde. Através de um intercambio com projecto Vitó Cabo Verde, em que conseguimos enviar um jovem à ilha do Fogo e recebemos um daquela ilha, como forma de capacitar e dinamizar os trabalhos de conservação de tartarugas marinhas a nível nacional”, disse Jairson da Veiga.
Jairson da Veiga disse que realizaram estudos científicos com os quais aprenderam pontos importantes para a conservação desta população e, neste momento, estão a investigar o movimento das tartarugas no mar em colaboração com outras congéneres a nível regional, nomeadamente, com organizações de São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau.
“Dos vários estudos que publicamos anualmente para melhoria do conhecimento, destacamos dois deste este ano que tem a ver com a marcação e recaptura através de colocação de microships, que demostrou como as fêmeas se distribuem ao redor da ilha, e também sobre o histórico de consumo da carne de tartaruga na ilha, que nos mostram quais os factores históricos que estimulam e desincentiva a captura das tartarugas.
Jairson da Veiga acrescentou que durante esta temporada registaram, pela primeira vez, a desova de tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata), que é uma das espécies de tartarugas marinhas mais ameaçadas no mundo, o que acaba por demonstrar que as condições no mar e as mudanças climáticas estão a ter impacto junto desses animais, obrigando-os a procurarem novas áreas de colonização e reprodução.
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