*** Por Marli Coutinho, da Agência Inforpress ***
Assomada, 04 Out (Inforpress) – O director das Aldeias Infantis SOS de Assomada, concelho de Santa Catarina, Pedro Andrade, revelou hoje que os maiores desafios da instituição passam pelo sonho da reunificação familiar e questões de sustentabilidade.
Numa altura em que a instituição comemora os seus 39 anos de existência, 04 de Outubro, a Inforpress foi conhecer de perto a realidade e o funcionamento da Aldeias SOS Assomada, mas também auscultar os principais desafios e como têm sido driblados.
Pedro Andrade, director da instituição há nove anos, disse que o principal desafio é ver cada criança de volta ao seio da sua família, com foco na reunificação familiar, mas este, conforme evidenciou é um “sonho” almejado, mas que não tem sido concretizado ao longo dos anos mesmo com as diversas tentativas.
Não obstante, a questão da reunificação familiar, indicou também a questão da sustentabilidade como um outro desafio da instituição, recordando que vivem através do apadrinhamento, onde a maior fatia do orçamento vem de fora.
Conforme explicou, este projecto possui um custo elevado, realçando que cada criança é uma criança, que há crianças que necessitam de cuidados especiais e que muitas vezes é preciso recorrer aos parceiros ou também pagar para que estas crianças possam ter um atendimento de qualidade.
Questionado quais os passos ou projectos que as Aldeias SOS têm em curso para trabalhar no processo da reunificação familiar, este responsável informou que há alguns projectos relacionados com a formação tanto das crianças como das famílias em andamento, e que visam trabalhar ambas as partes, principalmente no sentido de diminuir as dificuldades das crianças/jovens ao saírem da Aldeias SOS.
Na parte da família biológica, falou do projecto Escola de Família nas Aldeias SOS de São Domingos que trabalha com famílias das crianças acolhidas, dentre outros grupos, assegurando que este é um projecto mais “complicado e demorado”, tendo em conta que o objectivo é capacitar famílias em termos de competências parentais que lhes permitem melhor cuidar das suas crianças.
Sobre o funcionamento, informou que as Aldeias SOS têm neste momento cerca de 52 a 60 crianças/adolescentes, divididos entre a Aldeia, Casa Familiar no Tarrafal e o Lar Juvenil em Assomada.
Estas crianças, estão sob o cuidado de onze mães, sendo 10 em Assomada e uma na Casa Comunidade no Tarrafal, dois monitores para a casa juvenil e seis tias que auxiliam as mães.
Sobre o dia-a-dia das mães, contou que em cada casa familiar cada mãe tem em média 5 a 6 crianças e estas mães residem no espaço 24 sob 24 horas, uma tarefa que reconheceu não ser “fácil”, acrescentando que esta trabalha com um grupo de crianças de origem diferente.
“Ser mãe é um pouco difícil porque exige uma formação, e além de formação, exige uma entrega total”, apontou, esclarecendo que geralmente uma mãe não entra logo sendo mãe de forma directa, mas sim que tem de ter primeiramente uma experiência como tia durante alguns anos e só depois pode ser seleccionada para ser mãe.
Quanto à Casa Familiar no Tarrafal, explicou que esta tem seis crianças da comunidade, que em vez de deslocarem estas crianças para uma casa familiar na Aldeias SOS em Assomada decidiu-se criar esta alternativa, permitindo assim às crianças permanecerem nos seus ‘habitats’ próprios.
Relativamente a preocupações com os internos avançou que a preocupação é a mesma de toda a sociedade, ou seja, a questão da delinquência juvenil, realçando que na Aldeia não se encontram livres de situações do tipo, justificando que cada criança é uma criança, oriundos de sítios diferentes, cada um com um perfil diferente.
Neste sentido, destacou que têm boas crianças, mas que também existem outras que exigem e oferecem mais desafios para tentar lidar com elas e para orientar cada uma das crianças tem sido feito um “djunta-mon” onde, além das cuidadoras, há também uma equipa multidisciplinar.
Para entrar e sair da Aldeias SOS existe um processo, como no caso de entrada, este responsável informou que pode ser através da Casa de Emergência, onde recebem a criança de imediato e depois é comunicado aos superiores e seguidos os trâmites legais diante da lei.
Outrossim, explicou que há casos de admissão, que descreveu como um processo um pouco mais longo, que é feito através de uma denúncia e, a partir daí, um técnico social faz uma visita à família ou ao local, traz um relatório que é lido na Aldeias SOS Assomada para ver se cumpre os critérios de admissão e depois é encaminhado aos superiores.
Igualmente, para a saída, explicou que existe um plano, como nos casos em que os internos vão continuar os seus estudos quer na universidade ou em cursos profissionalizantes, onde além de ser disponibilizada uma bolsa de estudo durante os anos de formação há uma pessoa para os acompanhar durante o processo e após finalizar o curso ou a formação este técnico vai se afastando de forma a permitir que os jovens ganhem a sua liberdade e autonomia.
Para finalizar, pede a cada mãe e cada pai que cuide bem dos filhos, realçando que nas Aldeias SOS há profissionais que se posicionem como pais e mães, mas nunca ocupam o espaço dos pais biológicos, reforçando que a maior satisfação e felicidade destes funcionários é ver as crianças bem no seio das suas próprias famílias.
A celebração dos 39 anos vai ser marcada pela cerimónia de reinserção de três jovens, sendo dois de sexo feminino e um de sexo masculino, que saem do lar juvenil para o mundo do trabalho e de estudo, ou seja, para as suas famílias.
Da agenda consta ainda uma homenagem às mães da Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde, que terá lugar hoje a partir das 11:00, na Aldeia SOS de Assomada.
MC/HF
Inforpress/Fim