Cidade da Praia, 04 Mar (Inforpress) – O centro de reciclagem comunitária Ekonatura, sediado em São Francisco, recicla em média 100 quilos de vidro e plásticos por hora, um número que poderia ser maior caso a falta de transporte não fosse um dos principais desafios.
Numa visita efectuada ao local, localizado a 12 quilómetros do centro da cidade da Praia, a Inforpress constatou que boa parte desses materiais produzidos por médias e grandes empresas em Cabo Verde não recebe o descarte correcto e acaba no lixo, mas graças ao trabalho dos profissionais da Ekonatura, o lixo se transforma em peças decorativas de “enorme qualidade”.
“O processo é longo e exigente, e inicia com a trituração das matérias-primas, nomeadamente o plástico e o vidro, que mais tarde ao ser misturado com o cimento branco e outros produtos se transforma em artesanato, desde vasos para plantas, chaveiros, utensílios para casas de banho, acessórios para os cabelos e porta joias”, explicou a responsável Paula Ferreira.
Mais de 90% das produções advém das coletas dos materiais junto das famílias e das empresas, o que tem constituído um problema devido à falta de transporte.
Paula Ferreira sublinhou ainda que recebem diversas chamadas para a recolha em outros localidade, principalmente do concelho da Ribeira Grande de Santiago (Cidade Velha), mas que não tem sido possível corresponder à demanda por estarem condicionados a recolha dentro ou nos arredores da comunidade.
Um outro desafio, segundo ressaltou, prende-se com o “preço elevado” do cimento branco, o produto principal no processo de construção das artes.
O objectivo, conforme avançou, é aumentar as vendas dos produtos e garantir o sustento das oito chefes de família que trabalham para a empresa, cinco mulheres e três homens, que devido a ausência de apoios, dependem do “pouco” que ganham com as peças que confeccionam.
O grupo Cavibel, que é responsável pelo engarrafamento das bebidas em Cabo Verde, é um dos principais fornecedores de garrafas de plástico “Pet” (polietileno) para o centro de reciclagem.
Os vasos decorativos para plantas, informou, são feitos de areia de vidro, pavê e bloco, para posteriormente serem colocados num molde e levados ao sol para a secagem natural, o mesmo processo acontece aos outros objectivos substituindo o vidro pelo plástico, utilizando as máquinas de trituração, máquinas de compressão e injecção, respectivamente.
A mesma lembrou que com esses produtos já realizaram centenas de exposições em diversas ilhas, sendo a mais recente no Palácio Presidencial, durante quatro dias, de 1 a 4 deste mês, no âmbito do “Março, mês da mulher”, sob o lema “Traços femininos na arte”.
Horácio Lopes, um dos profissionais da empresa, diz-se “orgulhoso” do trabalho que desempenha e apelou ao Governo para apoiar o projecto no sentido de “diminuir ou eliminar” os impactos negativos que têm no ambiente e ajudar também no rendimento das famílias de São Francisco.
Na medida que, notou, têm feito um “grande esforço” para manter as comunidades limpas e longe dos gases tóxicos liberados por esses materiais, que levam centenas de anos para se decompor no ambiente.
Um outro efeito, asseverou, tem a ver com os impactos no ecossistema marinho, que em tempos de chuva é uma ameaça para a sobrevivência das espécies.
De acordo com o relatório publicado pela Organização das Nações Unidas é necessário medidas urgentes para a redução drástica dos plásticos nos oceanos para evitar uma crise global de poluição.
Jorge Tavares começou a trabalhar na área como voluntário e hoje completa três anos a servir o projecto. Apelou ao governo para apoiar com as matérias primas e equipamentos, visto que, segundo avançou, as máquinas necessitam de manutenção diária.
A Ekonatura é fruto do projecto “Raiz Azul” implementado pela Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e pela Associação Cabo-verdiana de Ecoturismo (ECOCV).
Iniciado em 2019, antes da sua implementação, juntamente com os parceiros, fez-se uma avaliação no terreno, a fim de detectar as matérias primas que existiam no território de São Francisco, no qual notaram que o que havia em grande quantidade eram plásticos e vidros.
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