Lisboa, 09 Mar (Inforpress) – A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (‘Aid to the Church in Need’, no original em inglês) considera que a recente eleição na Nigéria de um Presidente e um vice-presidente muçulmanos “sinaliza aumento da intolerância religiosa no país”.
Além de ser um “sinal de aumento da intolerância religiosa”, a eleição de muçulmanos para os dois cargos, que contraria uma prática informal que era seguida pelos principais partidos nigerianos, pode ser também um indicador da “marginalização do país”.
A conclusão consta do documento “Nigéria na Encruzilhada”, divulgado hoje durante uma videoconferência promovida pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), no âmbito do lançamento da Campanha da Quaresma 2023, dedicada aos cristãos nigerianos.
“Até agora, os partidos mais importantes sempre apresentaram candidaturas representativas das duas principais religiões do país. Se o Presidente era cristão, o vice-presidente seria muçulmano, e vice-versa. Mas pela primeira vez, o Congresso de todos os Progressivos [APC, partido no poder] apresentou como candidatos Bola Ahmed Tinubu e Kashim Shetima, ambos muçulmanos”, salienta a AIS.
“Muitos nigerianos criticaram o viés e a insensibilidade para com o pluralismo da sociedade nigeriana”, frisa a AIS.
Bola Tinubu foi considerado em 01 de março vencedor da eleição presidencial de 25 de fevereiro, e os candidatos derrotados, Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular (PDP), e Peter Obi, do Partido Trabalhista, que afirmam ter ganhado as eleições, já anunciaram que vão recorrer dos resultados, argumentando que houve irregularidades.
Os cristãos representam cerca de 46,2% dos 206 milhões de habitantes enquanto o Islão é a religião de 45,8% dos nigerianos, com a maioria pertencente ao ramo sunita.
A população restante (8%) pratica crenças religiosas tradicionais e o cristianismo é a religião maioritária no sul e o Islão no norte, com a lei islâmica (‘Sharia’) a ser aplicada em 12 dos 20 estados da parte setentrional do país.
No documento apresentado, considera-se que “o antagonismo entre o norte e o sul ressurgiu fortemente durante a restauração da ‘Sharia’ em 12 dos 20 estados do norte em 2000 e aumentou nos últimos anos”.
Matthew Man-Ndagoso, arcebispo de Kaduna, que interveio na videoconferência de hoje, sustenta que a “perseguição religiosa no norte é sistémica”.
“Para poder praticar livremente a sua religião devia ser possível pregar em qualquer lugar. Isso não é possível no norte. Não posso construir uma igreja, mas o Governo emprega e paga aos imãs [líderes religiosos muçulmanos] para ensinar nas escolas. Têm sempre verba orçamentada para construir mesquitas, mas não deixam construir igrejas”, apontou, apesar da Constituição nigeriana garantir a liberdade religiosa.
Inforpress/Lusa
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