Sal Rei, 30 Set (Inforpress) – Noel Fortes e Pancrácio Tomar “Kaka” são homenageados hoje no Festival da Morna 2023, em Sal Rei, actividade da V Semana da Morna, realizada pela Câmara Municipal da Boa Vista em parceria com a Associação de Músicos da ilha.
Os dois músicos, interpretes e compositores, ambos naturais da ilha da Boa Vista, em entrevista à Inforpress revelaram que, além de nutrirem o gosto pela música, especialmente a morna, e cultura cabo-verdiana, as quais lutam pela sua preservação e divulgação, têm em comum a criação da Associação dos Músicos da Boa Vista. Ambos foram presidentes desta associação e também foram fundadores do Festival da Morna da Boa Vista, evento concebido pela mesma agremiação.
Pancrácio da Cruz Tomar, ou Kaká, nome pelo qual é conhecido, nasceu a 11 de Novembro de 1957 no seio de uma família humilde da Boa Vista, e jovem conviveu com diversos músicos e compositores que, com as suas mornas, homenageavam o sentimento de um povo habituado às agruras da vida.
Em entrevista à Inforpress, Pancrácio Tomar contou que foi com muita satisfação que recebeu a nova desta segunda homenagem na sua ilha natal, sendo que já tinha sido galardoado com a Medalha de Mérito Cultural do 2º Grau pelo Governo de Cabo Verde, através do Ministério Cultura como forma de reconhecimento do Estado pelo contributo que deram para a Cultura do país.
“Embora estava já quase a achar um pouco tardia a chegada desta condecoração. Mas sinceramente senti que é um acto de reconhecimento daquilo que tenho feito pela música da Boa Vista e de Cabo Verde no geral”, disse, reiterando-se satisfeito.
Kaka explicou que se sente mais à vontade como compositor, considerando ser esta a sua vocação e ambição, e a sua forma de fazer música principalmente a morna da Boa Vista, onde tem compositores que, na sua opinião, deveriam abraçar o estilo da morna da ilha que é de ritmo galope.
Quanto a trabalhos musicais, o mesmo tem no mercado o CD “Mana Lourença”, lançado em 2006, em homenagem à mulher cabo-verdiana, com 10 faixas, sendo sete da sua autoria (um funaná e nove mornas).
Entretanto revelou que tem na gaveta o CD “Nha Mortadja”, devido a algum ressentimento porque achava que tinha sido pouco valorizado na sua ilha natal, Boa Vista. Mas, assegurou que, após o reconhecimento do Governo de Cabo Verde, ganhou animo e mudou de ideia, e por isso, poderá repensar este plano e lançar o trabalho musical.
“Enquanto estiver vivo terei de cumprir esta missão, acho e espero que a nova geração deveria prosseguir neste caminho de divulgar e preservar a morna e a cultura cabo-verdiana”, garantiu, indicando que tinha dois sonhos, sendo um realizado que era de cantar em São Vicente e outro por realizar que é levar a música, morna e poesia às escolas.
Por sua vez, Noel Fortes que é instrumentista de cordas, de 78 anos, e aposentado da função pública, disse que vê a homenagem como um reconhecimento daquilo que fez pela música, cultura cabo-verdiana e por Boa Vista, apesar de que, sublinhou, não era esse o seu objectivo ou ambição.
“Aceitei esta homenagem sem nenhuma vaidade e com alegria, quando falo e toco para o meu povo fico feliz”, exteriorizou, sublinhando que sente e acolhe esta homenagem que é através da CMBV dado ao carinho da sua gente da ilha e não só.
O compositor relembrou que no ano passado foi galardoado numa homenagem colectiva, onde fez parte do grupo dos músicos veteranos de Cabo Verde, durante o espetáculo Vozes das Ilhas, em São Vicente, e ainda no Festival de Praia de Cruz, evento do qual também foi um dos fundadores.
Noel Fortes enalteceu que tem no mercado desde 2005, o CD em instrumental intitulado “Rebecada Caboverdiana” com oito temas, sendo duas mornas, uma da sua autoria, três coladeiras também compostas por ele, e contou com a participação dos compositores Paulino Vieira, ZéZé Barbosa, Ti Goy, e em 1974 criou o grupo, Os Primos, do qual gravou dois cassetes, Alfabetização e Boa Vista.
Além da música, o homenageado disse que tem outras valências, competências, nomeadamente desportivas, em que ainda jovem foi fundador do Sport Clube Sal Rei, criou e foi fundador da casa racionalista na Boa Vista, e tinha outras acções sociais.
“Tenho em mim que nasci com missão de fazer alguma coisa para a Boa Vista e são inúmeras actividades que realizei pela minha iniciativa e proposta que está à vista”, referiu, adiantando que tem em plano gravar visto que tem em carteira cerca de 50 composições da sua autoria de vários géneros, desde morna, coladeira, mazurca, bolero, samba.
E para ser mais preciso, Noel Fortes aclarou que pretende gravar um CD com voz da sua filha Ilda Fortes e uma amiga Sandra Horta, no estúdio de Jorge Nunes, mas que aguarda somente pelas disponibilidades das cantoras. Disse também que considera Gaby Estrela outra grande voz da Boa Vista e que gostaria que a mesma cantasse seus trabalhos musicais.
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Inforpress/Fim