Boa Vista: Funcionários dos hotéis reivindicam resolução de pendências e problemas laborais que classificam de trabalho escravo – Siacsa

Sal Rei, 04 Mar (Inforpress) – Os funcionários das unidades hoteleiras da Boa Vista ameaçam sair à rua para reivindicar a resolução de pendências e problemas laborais, que consideram uma “autêntica escravidão”, caso não forem resolvidos num prazo de oito dias, revelou o Siacsa.

O presidente do Sindicato de Indústria Geral, Alimentação, Construção Civil, Serviços, Agricultura e Afins (Siacsa), Gilberto Lima, avançou esta informação após encontro com os funcionários de unidades hoteleiras da ilha da Boa Vista que aconteceu na sexta-feira, na cidade de Sal Rei.

Segundo o sindicalista, na segunda-feira, 6, será enviado um documento, um caderno reivindicativo para todas as empresas, unidades hoteleiras da ilha da Boa Vista, sem excepção, que terão um prazo de oito dias para resolver todas as pendências laborais dos funcionários.

Gilberto Lima precisou, que, nos próximos oito dias, a contar a partir de segunda-feira, caso os pendentes laborais e problemas dos trabalhadores não forem resolvidos, o próximo passo, na luta dos sindicatos e dos trabalhadores, será de sair à rua.

“Estamos todos preparados para apoiar os trabalhadores caso efectivamente estas empresas não se disponibilizarem para dialogar com o sindicato para se encontrar soluções aos problemas que existem no seio laboral das empresas hoteleiras que, devem ser resolvidas”, disse, reiterando que, a luta é conjunta e que todos os trabalhadores partirão para uma luta consistente para se resolver as pendências laborais.

Conforme observou, o sindicato e os trabalhadores que representa não querem ser parte do problema, pelo que, sublinhou, pretendem participar na resolução dos mesmos, e por isso vão à luta de “consciência aberta” para se encontrar o caminho certo para resolver todas as demandas que, não constam nem no código laboral cabo-verdiano.

“A lei não casa com ninguém. A lei assim como os deveres dos trabalhadores são para serem cumpridas. Agora trabalho escravo como se está a se desenhar neste momento colocando os trabalhadores em situações de debilidade, a trabalhar anos a fios com o mesmo salário, nem mudança de categoria profissional, é de facto muito complicado”, analisou, verificando que, estes trabalhadores não conseguem mudar as suas vidas, e viver condignamente com os seus familiares.

Quanto às reivindicações, Gilberto Lima garantiu que vêm sendo acompanhadas pelo Siacsa, e que foram novamente indicadas durante a reunião. O mesmo classificou-as de “situações gritantes e tristes”, e que, por vezes são coisas que ultrapassam de longe o escopo laboral, e que nem se quer encontram estipulado neste diploma legal.

“Os trabalhadores queixam-se de escravidão autêntica, estão e são altamente prejudicados em termos de direito de trabalho hoteleiro, nomeadamente na melhoria salarial conducente dum trabalho digno”, disse, lamentando que se tratam de situações que não se gostaria de ter em Cabo Verde mormente na Boa Vista, ilha em expansão em termos laborais e de trabalho hoteleiro.

O sindicalista acrescentou ainda que aos funcionários se exerce muita pressão, outros são até proibidos de falarem, não usam os telemóveis. Contaram ainda que, por vezes, as entidades empregadoras dizem que, o Estado de Cabo Verde que é responsável desta situação de precariedade laboral no seio destes trabalhadores.

Para se ter uma noção do que acontece, e o que se passa nestas empresas, o responsável sindical relembrou que o Governo deu aumento salarial para ser aplicado em meados de Janeiro entre 3,5%, 2%, e 1%, mas, segundo declarou, alguns hotéis da Boa Vista aplicaram um montante de 200 escudos para um salário de 27 mil escudos.

Pelo que justificou, isto está “errado”, sendo que o valor que deveria ser aplicado é de 945 escudos, o que quer dizer que, estas empresas estão a retirar do bolso dos trabalhadores, 745 escudos daquilo que o Governo e os parceiros sociais estipularam para actualização salarial no país.

“Deve-se lembrar também que o custo de vida na ilha da Boa Vista é muito elevado e os trabalhadores deveriam ter um salário que combine com estes custos”, comentou.

Ainda sobre as reivindicações, Gilberto Lima apontou o aumento da carga horária, subsídio nocturno que não é pago quando trabalham à noite, o facto de os trabalhadores custearem o transporte para o hospital quando adoecem durante o período laboral, porque não há viaturas disponíveis para estes casos. Ajuntou ainda que trabalham com produtos tóxicos que são proibidos pelo Ministério da Saúde, facto não aceite pelas empresas que até os ameaçam com despedimentos sem justa causa.

O dirigente do Siacasa falou ainda em reclamações e exigências relacionadas com situações de vida e de trabalho em situações de calamidade em termos de segurança no local de trabalho em que as empresas não têm o SOAT (Seguro Obrigatório de Acidente no Trabalho) que deve ser implementado.

“Se coloca os trabalhadores a fazer descargas. Imagine um trabalhador que trabalha num restaurante a descarregar um camião de bebidas. Isto não faz sentido, é uma pressão de todo o tamanho”, exemplificou este caso específico que aconteceu, assegurando haver ainda assédio moral em todas as empresas hoteleiras da ilha, problemas que, no seu entender, devem ser colmatados o mais urgente quanto possível.

VD/ZS

Inforpress/Fim

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