Cidade da Praia, 03 Fev (Inforpress) – Os antigos futebolistas internacionais cabo-verdianos dizem-se “agastados” com o impasse governamental na “atribuição do direito à pensão do Estado, aprovado por unanimidade há dois anos no parlamento” como contributo dos desportistas à selecção nacional e reclamam pela resolução.
Em conferência de imprensa realizada na sede da Federação Cabo-verdiana de Futebol, na Praia, o grupo, rotulado de heróis de 70, reclamou o que considerou ser “uma imperiosa necessidade, mais do que isso, um desígnio nacional, pois os antigos internacionais foram os verdadeiros e primeiros embaixadores de Cabo Verde, ainda em situações muito mais difíceis do que hoje”.
“Hoje faz precisamente dois anos que foi publicado o decreto-lei nº 115/IX/2021, de 02 de Fevereiro, que concede a possibilidade de atribuição da pensão aos desportistas internacionais”, esclareceu o porta-voz, Zé di Nhana, antigo goleador internacional cabo-verdiano, ressaltando que a publicação deste decreto-lei criou muito entusiasmo e ansiedade nos antigos internacionais.
Lamentou que “muitos deles vivem em situações dramáticas de pobreza e sobrevivem graças à solidariedade de familiares e amigos”, salientando, ainda, que outros estejam “doentes, desamparados a sofrer”, quando, recordou, “para representarem a selecção nacional na época muitas vezes perderam salários por falta de licença para jogarem bola”.
“Atletas que viajaram em péssimas condições, pondo em vida as suas vidas. Atletas que se alimentavam mal, dormiam pessimamente (em escolas, ginásios, tendas, casa de amigos e familiares, etc, sem nenhuma segurança). Tudo isto, sem quaisquer compensações financeiras”, recordou.
Este antigo avançado, lamentou que após a publicação deste decreto-lei, alguns destes internacionais já faleceram sem poderem usufruir da pensão, estando outros a enfrentarem problemas de saúde e má nutrição.
“Seria bom que fossem criadas condições para não permitir que voltasse a acontecer o que verificou com os antigos internacionais, nomeadamente Cadino, Djack, Djô de Pedra Lume, Rubon Chiqueiro, Álvaro, João de Júlia, todos já falecidos, depois de caírem em desgraça. A história não deve, não pode repetir-se”, esclareceu.
Por tudo isto, estes ex-internacionais fizeram questão de clarificar que “com a vida de miséria, pobreza e à beira da morte” já não lhes interessa homenagens, ainda que reconhecidas, em como se trata de “gestos importantes que lhes tocam a alma e lhes fazem reviver aqueles momentos exaltantes” dos seus percursos.
O grupo disse “estranhar algum silenciamento do Governo, após a audiência com o ministro do desporto “com quem esperávamos um papel mais interventivo neste dossiê”, clarificando, por outro lado, que estes chegaram a pedir ao Presidente da República que exerça a sua magistratura de influência junto do executivo, para “que se salve vida”.
Na mesma colectiva, o grupo enalteceu o papel do presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, Mário Semedo, “pela iniciativa, engajamento e intervenção que teve neste processo junto do Governo”, e afirma que “tal como outras personalidades, cidadãos, instituições do país” honraram as camisolas, defenderam o país, orgulhosamente, sem exigir nada em troca.
SR/CP
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