Adevic aponta aquisição de materiais didácticos como principal lacuna para sistema de escrita e leitura do Braille (c/vídeo)

Cidade da Praia, 04 Jan (Inforpress) – O presidente da Associação de Deficientes Visuais de Cabo Verde (Adevic) afirmou hoje que a aquisição de materiais didácticos constitui uma lacuna para o sistema de Braille que, além de muito caras, não existem no País.

“São todos vindos de fora e nos últimos dois anos, com a crise da pandemia, não conseguimos trazer nenhum tipo de material para a escrita e leitura. Neste momento estamos à espera de um lote de materiais e acredito que isso venha a dar-nos mais força neste trabalho, mas é muito incipiente”, explicou.

Em entrevista à Inforpress, no âmbito do Dia Mundial do Braille, que se assinala hoje, Marciano Monteiro considerou que a falta de recursos humanos, financeiros e materiais constitui também uma das principais lacunas que impede a massificação da leitura e escrita do Braille.

Para assinalar o dia, esta associação avançou que vai fazer uma cerimónia de entrega de 30 telemóveis aos invisuais que foram seleccionados, tanto da ilha de Santiago como das outras ilhas, no âmbito do um projecto “comunicar sem limite”, financiada pela Garantia Seguros em parceria com a Adevic.

“Associamos a comemoração deste dia com a entrega desses equipamentos porque a tecnologia veio complementar o Braille, mas a base é sempre o Braille, pois é através dele que as pessoas conseguem aprender a ler e escrever convenientemente”, adiantou o responsável da Adevic.

Para além da comunicação, acrescentou, o Braille é igualmente um dos instrumentos que servem para a melhoria do nível académico das pessoas com deficiência visual, lamentando o facto de a data ser assinalada num período do ano “meio morta” porque segundo diz, as pessoas saem das festas do Natal e Fim do Ano ficam “ressecadas”, mas mesmo assim não deixam de realizar algumas actividades para a divulgação da importância do dia e a data.

O presidente da Adevic afirmou que esta associação tem apostado fortemente na política de inclusão, juntamente com o Governo capacitando sempre, tanto no sector cultural, académico e na formação de curta duração nomeadamente, na área de culinária, informática e várias outras, de forma a ganharem a sua inclusão, justificando que “não há inclusão sem a formação”.

“A nossa ambição é que o Braille não seja só para as pessoas cegas, devemos trabalhar a inclusão não só de dentro, mas sim de fora para dentro, para que o Braille não seja só para as pessoas cegas, porque isso leva a limitação em termos de inclusão e dificulta a comunicação entre uma pessoa normal com um invisual”, frisou.

O presidente sublinhou ainda que a Associação de Deficientes Visuais de Cabo Verde tem estado sempre a formar as pessoas na área e mencionou alguns grupos que já formaram, como, os professores, jornalistas, familiares próximas das pessoas com deficiência visual ou cegas, no sentido de trazer essas pessoas para dentro da realidade da comunidade das pessoas cegas.

Por isso, considerou que a massificação do Braille é “muito importante” e enalteceu o ministério da Educação, por ter apostado sempre na capacitação dos professores, mas admitiu que não é suficiente por causa do tempo muito curto da formação, que não chega para estarem aptos para transmitirem o conhecimento, pois exige muito mais do que isso.

“Mesmo com a formação, as pessoas não conseguem se exercitar ao longo da vida, por causa da falta de materiais para a escrita e leitura do Braille”, elucidou Marciano Monteiro.

O presidente terminou garantindo à Inforpress que vai trabalhar junto dos parceiros e do Governo para driblar esta faceta, congratulando com o apoio do Ministério da Educação, mas ainda de uma forma “muito tímida”, pois precisa ser “muito mais ampla” para fazer outro tipo de pessoas fazer mais.

De referir que segundo o censo de 2010 existem cerca de 13 mil invisuais em Cabo Verde e estima-se que apenas 100 desses invisuais têm o privilégio de ler e escrever o Braille.

O Dia Mundial do Braille assinala o nascimento de Loius Braille, o criador do sistema de leitura e de escrita Braille, criado há quase 200 anos, que permite, através do toque, facilitar a vida das pessoas invisuais e a sua integração na sociedade.

DG/HF

Inforpress/Fim

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